domingo, 19 de novembro de 2006

TRUPE...

- Não são muito boas...
-Ah, talvez... não sei


(incrivelmente bobo...sugeriu implicitamente que devo crescer...que só ele poderia fazer parte de um grupo tão seleto... da Arcádia Lusitânia...da Presença...do Orpheu...e sente-se um intelectual...e tem quarenta anos)


Sinto um orgulho meio bobo (verbete favorito para esta postagem) das reuniões em minha casa e dos amigos de meu avô. Sérgio diz que poderiam ser mais Dionísicas, que poderia haver também um ritual...que poderiam ser uma sociedade secreta. Diz isso para que eu sorria juntamente com os demais que estão por perto, porém não há nada de novo nestas idéia... foi minha confissão há algum tempo. ( depois explico o hábito doentio do Sérgio de se apropriar de meus pensamentos).

Quando criança, era essa a explicação suscitada em minha mente daquelas reuniões sempre lotadas, pessoas sorrindo, comendo amendoins ou bolo de milho, enebriando-se com café ou doses pequenas das cachaças locais.

Aos poucos, fui iniciada nesses encontros e, sentada em algum banco no canto da sala, fui percebendo o teor das conversas. Estavam sempre irritados com o poder político local, rememoravam a época do Império, discutiam a poesia, os livros, a música...debatiam, esbravejavam...e iam...iam pela porta à meia noite...

sempre...

era sempre assim que acontecia.

As aulas de Literatura da escola, as leituras, ajudaram-me a participar das conversas e a sentir-me parte do grupo. Depois de algum comentário já poderia balançar a cabeça e lançar um “sim” coerente e fundamentado...

Para entrar no grupo do vovô havia um processo de iniciação, deveria ter lançado um livro, ser professor, jornalista, escritor, músico...ou um filósofo doido...um maluco intelectual. Tinha que gostar de papéis, de livro, jornais, tinha que gostar do bolo da vovó e saber degustar um café ou doses de cachaça. Além de tudo, todos eram já senhores...tinham lá seus sessenta anos...o que explicava a preferência por esse tipo de atividade.(soou preconceituoso).

O fato é que, há algum tempo, essa história tem mudado...Chegou por aqui, em meados de junho do ano passado, um certo senhor...apresentado por um tal de Vieira. A pessoa, “mal- chegada”, foi amplamente aceita pelo grupo e já se fazia rotineiro em nossa casa...

A Atenas brasileira estava ali, em minha casa, a poucos metros de meu quarto e eu, residente, e, por vezes, coadjuvante no meio de debates e fumaça, não era nem sequer comparada a uma Tarsila, muito menos à uma Pagu...nunca seria citada como partícipe importante de uma revolução cultural da Ilha.

E foi assim que, aos poucos, fui me infiltrando novamente na trupe...entre uma conversa e outra já conseguia ser olhada e ouvida (afinal, lancei O Bertoleza). Não admitia, um homem que mal havia chegado, ser o centro das atenções e saber tanto sobre Literatura e outras coisas que se deve saber (Sergio diz que deveria saber como chegar à Forquilha sozinha). Não admitia que ele retomasse as minhas opiniões ou as ampliasse sempre num tom e em linguagem quase Austen: se me permite...
- Ele pensa que é personagem de Austen? Pergunta Sérgio, mas quem é Austen?
Arght...o Sergio me irrita...e ainda diz que não gostaria de participar do Grupo seleto do meu avô...- Lá eles não gostam de mangas, isso sim é cultura! (diz, amassando entre os dedos o chiclete da manhã toda)

O pior de tudo foi nos encontrarmos no corredor: - Doroth...então aprecia as poesia de Marcelo caneca? Não são muito boas...

-Ah, talvez...não sei!

...

E saí...fui alimentar os peixes que ardiam de tédio...

E eu...

Não me entendam mal...

Estou enervada...saio desta cidade ainda na semana que vem...

O QUE FALTA PARA ESTA CIDADE ? : um rodoviária pior do que a que temos...quero me sentir na Colômbia...faltam também jumentinhos e carrinho de cachorro quente barato.


Beijos,
por Dorot

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